Para perfeito entendimento da “faca de prata”, é necessário socorrer-se do texto publicado por Laércio Gazinhato em sua web site “Knife Company”, que encontra-se disponível na integra no Portal Knife Company, especialmente nos artigos; ORIGENS DA CUTELARIA BRASILEIRA, bem como em seu GLOSSÁRIO, pois evidenciam seu surgimento e evolução.
Destes artigos extraem-se os seguintes excertos, devidamente negritados quando oportuno:
ORIGENS DA CUTELARIA BRASILEIRA
“Em nosso país, os primeiros registros de um artesão cuteleiro datam de 1532, quando o ferreiro português de nome Bartolomeu Carrasco, vindo com a expedição de Martim Afonso de Souza para São Vicente, no litoral de São Paulo, instala sua oficina nas margens do rio Jurubatuba, com a finalidade de produzir ferraduras, anzóis e facas. Infelizmente, não se sabe o que ocorreu com esse personagem e sua oficina.
A primeirissima criação da cutelaria artesanal brasileira foi uma adaptação e destinou-se especificamente aos Bandeirantes: tratou-se de um tipo, hoje raríssimo, de espada (particular ao nosso país), que aproveitava a estrutura de empunhadura das rapieiras européias e a ela adaptava uma lâmina mais larga, bastante similar a de um facão, ferramenta esta que era bem mais útil nas matas fechadas, tanto para o trabalho de limpeza do terreno quanto nos combates aproximados com os silvícolas. De certa forma, esta criação seria o embrião das primeiras facas de Sorocaba, ou “Sorocabanas”, como também seriam conhecidas.
É certo que, desde os primeiros fluxos migratórios, para cá acorreram muitos artesãos portugueses e entre eles ferreiros-cuteleiros e prateiros, profissionais indispensáveis à confecção de facas na concepção que delas se tinha na Europa dos séculos 17 e 18: lâminas forjadas no clássico formato das adagas mediterrâneas, empunhaduras constituídas de materiais diversos mas sempre com aplicações de prata e bainhas de couro, quando muito com bocal e ponteira no mesmo metal branco.
O primeiro centro cuteleiro de maneira organizada do Brasil que se tem notícia foi a cidade de Pasmado, no Ceará (hoje Abreu e Lima), onde – segundo documentos de 1718 – eram tantos os artesãos a atuar no trabalho específico de forjar lâminas que “…ainda distante da Vila, já se ouvia o soar dos martelos nas bigornas…”. As criações de Pasmado foram, em sua maioria, de facas utilitárias, algumas de maiores dimensões sendo também usadas para defesa.
No inicio do século 18, com as expedições cientificas que aqui chegaram também vieram pintores que registraram em seus trabalhos tropeiros portanto longas “facas de ponta”, definição oficial das primeiras facas de defesa genuinamente brasileiras e que eram as do tipo Sorocaba. Posteriormente, essa definição ficou restrita às facas produzidas nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Inicialmente Salvador, na Bahia, e posteriormente o Rio de Janeiro, tornam-se sede dos governos coloniais e muitos cuteleiros de origem portuguesa radicam-se nessas cidades, ao lado de prateiros de destaque que vinham do Reino em busca de novas oportunidades na “Terra dos Papagaios”. É certo que a junção desses dois profissionais em terras tupiniquins produziu criações muitíssimo requintadas, como as ricas facas do Sul da Bahia e de Minas Gerais, clássicas adagas mediterrâneas com bainhas e empunhaduras de prata. Estas variantes foram – de certa forma – os “elos perdidos” entre o clássico formato europeu e aquelas que seriam as hoje chamadas “adagas do Período Colonial brasileiro”, cujas únicas diferenças em relação às suas congeneres do Velho Mundo está justamente no fato de usarem empunhadura e bainha totalmente em prata.
Há alguns meses tive a oportunidade de ver e manusear antiga criação de cuteleiro português do Período Colonial, bastante requintada, do que foi uma das primeiras facas de ponta brasileiras. Sua bainha e empunhadura são em prata grossa e sua lâmina é de aço Damasco, isto sendo a prova de que os mais destacados cuteleiros portugueses também conheciam o segredo do raro material e o trouxeram para o Brasil. Em minha opinião, esta rara faca brasileira do passado foi produzida na Bahia ou no Rio de Janeiro por volta de 1790.
As constantes feiras de gado que se realizaram em Sorocaba, no interior paulista, após a abertura do Caminho de Viamão, no Rio Grande do Sul, ou “Caminho dos Tropeiros”, como também era conhecido, fizeram com que lá – já a partir do final do século 18 – florescesse uma crescente atividade artesanal de artigos ligados à vida no campo, entre eles as famosas facas de Sorocaba, que dariam início a outros tipos tais como as “franqueiras” e as mineiras do tipo “Curvelana”.
Em paralelo a isso, existia nos Pampas gaúchos, a clássica “faca de prata”, inicialmente como trabalho de toscos cuteleiros que aproveitam espadas quebradas, molas de carroça, restos de serras, etc. para com eles forjar lâminas. Posteriormente, com a industrialização das cutelaria de Solingen e Thiers, essas criações foram equipadas com lâminas européias e a elas se agregou o trabalho de prateiros, movimento que originou-se em Buenos Aires, Argentina, e atingiu os Pampas de Uruguai e Brasil.
O início do século 19 trouxe ao Brasil uma verdadeira invasão de facas comerciais produzidas principalmente em Solingen, Alemanha, e alguns raros exemplares manufaturados em Sheffield, Inglaterra. Para a América do Sul também afluiram alguns cuteleiros e prateiros de origens germânica e francesa e muitos deles se radicam em Buenos Aires, Argentina, no interior de São Paulo, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul, iniciando o ciclo das mais requintadas criações com bainhas e empunhaduras de prata nos dois países. É nesta época que surge no Rio Grande Sul, o “ciclo dourado” das facas gaúchas, principalmente com excepcionais trabalhos de prateiros da cidade de Pelotas e, no Interior do Estado de São Paulo, as mais sofisticadas facas de Sorocaba, muitos exemplares desse período sendo, erroneamente, confundidos e catalogados como sendo “franqueiras”. Igualmente é por volta do inicio de 1800 que surgem as mais sofisticadas facas artesanais do Sul da Bahia e algumas mineiras. Esse panorama de uma cutelaria comercial importada concorrendo ferozmente com a artesanal brasileira permaneceria inalterado até o final do século 19.”
GLOSSÁRIO
“Faca-de-coronel”
Designação popular, principalmente nas regiões Norte e Nordeste do Brasil, para facas e punhais requintados, normalmente longos, originalmente usados por coronéis políticos e/ou aqueles das Guardas Nacionais desde o século 19 e até início do 20. No Sul da Bahia, pode também designar facas com bainhas de prata dobráveis, com uma ou duas dobradiças para que não se partam com grandes movimentos do corpo, como, por exemplo, montar a cavalo.
Podemos desta forma, considerar que a faca de prata identifica a faca brasileira, seja ela; franqueira, mineira, nordestina, sorocabana ou gaucha, desde que tenha lâmina de qualidade, com empunhadura e bainha, em prata ou até mesmo alpaca, admitindo-se bainha em couro com devidas aplicações de bocal e ponteira, como as picaças, ou as articuladas nordestinas, quando resultam em obras de arte, verdadeiras facas jóias, faca de coronel ou faca de patrão.
No intuito de perenizar tais criações, e permitindo ainda o exercício do orgulho pessoal na exibição de uma faca de prata, resguardadas as regionalidades pertinentes aos nossos rincões, são oferecidas recriações das gauchas, franqueira, mineiras, nordestinas e sorocabas, com lâminas forjadas em aço 5160, com montagem em prata de teor 900 de pureza e detalhes em ouro 18 quilates.
Inicialmente disponibilizamos modelos já confeccionados, e à pronta entrega, ressalvando o atendimento sob encomenda, com criação de modelos exclusivos, os quais poderão ser elaborados com lâminas fornecidas pelo interessado.
Cada projeto garantirá a exclusividade na recriação de uma legitima faca de prata, com empunhadura, bainha, agarradeira e ponteira , cinzelados ou burilados, com os motivos e elementos escolhidos e determinados pelo “Patrão” ou “Coronel”.
Para tanto basta entrar em contato para maiores informações.