AS ESPADAS DE ODA

As Espadas de Oda

A história inédita do mais famoso “espadeiro” japonês do Brasil

____________________________________________________Laércio Gazinhato

Em 1984, quando lançou-se a 1a. revista brasileira sobre armas (a extinta “Armas & Munições”, da Editora Aquarius, de São Paulo-SP), fui convidado para ser seu Editor de Pesquisa. Na edição nº 1 da referida publicação, o artigo (apenas introdutório) “Espadas dos Samurais” de minha autoria causou enorme sucesso, revelando que muitos brasileiros apreciavam essas clássicas lâminas. Três anos depois, meu amigo Laerte Ottaiano lançaria o grande clássico da literatura técnica nacional sobre aquelas que são as mais famosas espadas do mundo, o hoje raro livro “Nippon-To” (“A Espada Japonesa”).

Daquela época e até o advento deste “site” em dezembro de 2001, por diversos motivos não tive mais oportunidade de escrever qualquer artigo sobre as fascinantes lâminas japonesas. Agora chegou o momento de revelar fatos importantes e inéditos sobre o principal e mais famoso artesão que as produziu em nosso país. Assim, é para mim a realização de um sonho e, embora atrasado, um necessário e justo tributo ao “sensei” Kunio Oda.

Antes de entrarmos na história de Oda, é necessário registrar que ele não foi o pioneiro na fabricação de espadas japonesas no Brasil. Segundo meu amigo Laerte Ottaiano (seguramente a maior autoridade brasileira nesse tipo de lâmina), essa honra fica com o também imigrante nipônico Yoshisuke Oura, que residiu em Suzano, na Grande São Paulo, e iniciou suas atividades em 1936, vindo a falecer em 2000, com 95 anos (veja também o artigo “Lâminas de Yoshisuke Oura”). Ainda de acordo com Laerte: 1) as espadas de Oura foram as primeiras do Brasil produzidas comercialmente, mas o artesão atendia especificamente os praticantes de Kendô e Iai da própria colônia japonesa, não sendo muito conhecido fora dela, e 2) eram de muito boa qualidade e Oura foi tão importante quanto Oda, apenas num período de tempo diferente. Oda, entretanto, foi o artista que mais e melhor atendeu encomendas do público de nacionalidade brasileira, ao lado, é claro, de pedidos de membros da colônia japonesa em nosso país.

Kunio Oda nasceu em 1912 no Japão, no seio de uma família em que alguns dos membros tiveram projeção na história japonesa desde 1534 (quando se tem os primeiros registros escritos desse nome) e outros produziam espadas de samurais havia 4 gerações. O avô paterno de Kunio ensinou-lhe a nobre arte de produzir lâminas e ele executou sua primeira espada já em 1930, então com apenas 18 anos.

Em 1957, Kunio veio para o Brasil, trazido pela idéia de trabalhar na agricultura do Interior de São Paulo, atividade que desempenhou durante uns poucos anos, depois mudando-se para a Capital do Estado.

Em 1966, estabeleceu-se na cidade de São Paulo, indo residir no tradicional bairro da Liberdade, desde o começo do século 20 reduto principal da colônia japonesa no Brasil. Entre uma série de ocupações profissionais, a partir de 1968 começou a preencher suas horas vagas produzindo espadas, inicialmente atendendo apenas alguns membros de destaque da grande colônia japonesa, no que era ajudado pelo filho mais moço.
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Oda, com cerca de 50 anos, deixou-se
fotografar no melhor estilo das clássicas pinturas
e ilustrações do Japão feudal que 
.mostram
“espadeiros” com suas criações.

 

Poucos anos depois, membros importantes da colônia japonesa em São Paulo já afirmavam enfaticamente que Oda era o único cuteleiro japonês do mundo autorizado pelo governo de seu país a desempenhar suas funções em terras estrangeiras, o que ele um dia também afirmou-me pessoalmente.

Já com bastante fama na colônia japonesa, Kunio Oda adotou, como era comum no Japão, a designação artística de Kunihiro, que foi também o nome de vários “espadeiros” famosos do Japão feudal. Em seguida, Oda nomeou sua oficina de “Ge-sho-an”, o que significa “Atelier da Paz da Lua”.

VISITAS E MODELOS

Em 1982, eu soube da existência de Kunio Oda por intermédio de um amigo comum, Jorge Canale, que vivia de fabricar arcos e balestras, cuidar da manutenção de armas de colecionadores e embalsamar animais. Algumas semanas depois tive oportunidade de conhece-lo pessoalmente, numa das mais memoráveis tardes de minha vida de apaixonado por cutelaria.

Fui até sua residência no bairro paulistano da Liberdade, um modesto mas amplo sobrado, com frente estreita, longo e com 2 andares para baixo do rés da rua para aproveitar a inclinação do terreno. Após receber-me rapidamente numa pequena sala de sua casa (onde notei um clássico suporte com um “wakisahi” e um “kataná”, que me pareceram originais, mas apenas em razoável estado de conservação), ele convidou-me para acompanhá-lo até a oficina que ocupava esses 2 andares inferiores. É digno de nota o fato de que sua oficina não tinha máquinas ou ferramentas elétricas a não ser uma velha furadeira de bancada. Lembro-me que na ocasião perguntei a Oda que tipo de aço carbono usava e ele – nas poucas palavras de nosso idioma que conhecia – disse-me enigmaticamente: “…o comum”. Alguns anos depois, Oda se mudaria para uma outra casa, na rua Sinimbú, também no mesmo bairro.

É claro que naquela tarde encomendei meu primeiro “kataná” do artesão. Seis meses depois ele estava pronto e ao entregá-lo Oda, igualmente de forma lacônica, afirmou-me: “…Este muito bom, bom mesmo!”. Foi curioso notar que nesses dois contatos pessoais iniciais, Oda fez-se acompanhar de sua neta, o que se repetiu alguns meses depois quando lá voltei para encomendar um “wakisashi” e, posteriormente, também um “tatchi”. A mocinha servia como uma espécie de tradutora e também recebia e conferia meus cheques. Das 7 vezes (6 para encomendar e receber peças minhas e uma para levar um amigo) em que estive com Oda, apenas nas 3 últimas não vi sua neta por lá.

Quem encomendava uma espada de Oda sabia que não devia esperar requintes cosméticos extremos, pois elas não eram produzidas apenas para serem expostas, mas sim feitas para serem usadas (e arduamente!). O mercado consumidor das espadas de Oda era constituído em sua grande maioria de praticantes de artes marciais da grande colônia japonesa de São Paulo. Mas, mesmo com essa destinação específica que previa um uso eminentemente prático e árduo, sempre eram bem acabadas. Embora poucos saibam, Oda também confeccionava para o mesmo público “yaris” (espécie de lança japonesa).


Oda, um pouco mais velho e acompanhado de sua
família, quando presenteou o famoso governador
de São Paulo Laudo Natel (1967-1971) com um de seus
“katanás”.

Quando conheci Oda, ele executava apenas os 3 (três) principais tipos de espadas de samurais –”wakisashi”, “kataná” e “tatchi” – mas, eu soube depois, ele havia também feito 2 únicos “tantôs” (veja final do texto). Todas as lâminas produzidas por ele eram forjadas numa técnica denominada “maru-gitaê”, onde se partia de uma barra de um ÚNICO aço (em seu caso específico, Torsima 1020 ou 1045), parte da qual após devidamente desbastada era envolvida com uma mistura de argila e cinza de carvão, apenas ficando de fora a área de corte, a qual, por estar exposta ao calor, seria a única a estar temperada. Assim, as lâminas de Oda tinham 2 (dois) níveis de dureza: uma do próprio aço original (abrigado do calor pela camada de refratária de argila e cinza) e outra maior apenas na área de corte (parte exposta ao calor pela ausência do material refratário). Fica, assim, registrado que Oda NÃO utilizava nas lâminas que produzia a clássica técnica do Japão feudal de combinar 2, 3, 4 ou até 5 aços que após a têmpera mostrariam níveis diferentes de dureza. Mas, de qualquer forma, elas combinavam elasticidade e dureza de maneira adequada e isto é o mais importante numa lâmina japonesa.

 

Comprimentos Básicos das Principais Lâminas Japonesas

“Tantô” (espada curta)……………………………………………………………………………………..de 15 a 33 cm
“Wakisashi” (espada média) ……………………………………………………………………………
de 33 a 53 cm
“Uchigataná” (espada de combate) ………………………………………………………………..
de 53 a 62 cm
“Daitô” ou “Tatchi” (espada longa)…………………………………………………….
de 62 a 70 cm ou mais

Para maiores informações sobre lâminas japonesas, veja “Glossário Técnico” neste “site”.

 

DETALHES

A linha de têmpera, ou “hamon”, nas espadas de Oda mais habitualmente vistas é o “gunomê”, literalmente “olho de peixe”, em realidade uma sucessão de picos sendo alguns mais pronunciados, considerada das mais comuns, e seguindo a velha e clássica tradição japonesa, as lâminas tinham polimento manual com pedras e não com lixas (veja também o artigo “Polimento de Lâminas Japonesas”). É especialmente importante notar que o “hamon” de Oda e algumas outras particularidades de suas primeiras criações eram diferentes (para mais detalhes, leia o artigo “Oda: Uma Descoberta Muito Diferente e Misteriosa…”).

O “hamon” mais frequente das lâminas de Oda, em duas versões: ao natural e esquematizado em desenho.

 

O próprio artesão e seu filho mais velho também executavam as bainhas de madeira que eram muito bem acabadas, pintadas com tinta comum e, pelo que se conhece, 97% delas na cor negra.

“Kataná” de Oda em sua versão de preço mais acessível, onde os materiais da empunhadura eram uma espécie de “samê” artificial criado pelo próprio artesão e o cordame em algodão.

As criações de Oda podiam ter empunhaduras em dois tipos: 1) com pele de arraia (“samê”) e cordame de seda, ambos vindos do Japão ou 2) com um material sintético desenvolvido pelo próprio Oda (dizem que se iniciava a partir de uma folha de lixa muito grossa para ferro, com diversas aplicações de grânulos maiores de fibra de vidro), imitando relativamente bem pele de arraia, e cordame de algodão. Obviamente que as espadas com a primeira opção de empunhadura custavam mais caro e hoje também comandam preços maiores.

Empunhadura de “kataná” Oda com o “samê” artificial, mas de boa qualidade. Note o “menuki” do 1º tipo e a “tsuba” vazada em ferro fundido.

Os “menukis” das criações de Oda são a mais imediata forma de identifica-las, mesmo sem desembainhar a espada. Todos os conhecidos podem ser de 2 tipos: 1) pré-1980 – ter a forma de 2 folhas alinhadas na horizontal, com as pontas para fora, e o centro é arredondado, com um clássico desenho “picotado”. As folhas podem ou não ter lavrações de suas nervuras, em diversos níveis de detalhes, sendo claro que as mais antigas são mais detalhadas e as últimas quase lisas; 2) pós-1980 – ter as pontas estilizadas, mais retas e, normalmente, com elas pintadas de negro, apenas o centro “picotado” deixado ao natural.

 

 

 

“Menukis” das espadas de Oda: representação gráfica do 1º tipo e foto do 2º tipo.

A seguir, ainda como elemento de identificação das espadas de Oda, estão as “kashiras”, ou pomos, de suas criações. Enquanto os “fuchi”, ou calços, eram totalmente lisos, normalmente de cobre pintado de negro, a partir do inicio da década de 1980 suas “kashiras” passaram a ter o desenho de uma casinha japonesa, toscamente lavrada a buril em baixo relevo. Quando, um dia, perguntei a Oda porque aquela casinha, ele simplesmente me respondeu: “…Minha casa no Japão” . Naquele momento vi em seus olhos as cores da saudade…

Quanto as “tsubas” das espadas de Oda, elas não seguiam uma padronização, embora fosse habitual ele utilizar 3 ou 4 tipos mais frequentemente, alguns fundidos a partir de bons originais ou boas réplicas (como é o caso de uma, de origem japonesa, com o figura de cegonhas, presente pessoal do também “espadeiro” Tomizo Ishida ao artesão e que era muito pedida, tendo ficada famosa; hoje, a excelente réplica que serviu de modelo está em minha coleção) e outros mais simples, habitualmente recortados de uma chapa de metal, lisos ou com pontilhados típicos, ao modo daqueles encontrados no centro dos “menukis”. Oda também usava “tsubas” fornecidas por seus clientes e já se viu de tudo nesse particular: exemplares retirados de réplicas baratas de espadas vendidas nas lojas do bairro da Liberdade, originais antigas, outras comerciais modernas trazidas do Japão, etc (desejando mais informações, leia o artigo “Arte em Tsubas”). O mesmo sucedia com outras furnituras típicas de espadas japonesas e eu mesmo adquiri uma antiga “kozuka” e a entreguei a Oda para colocar na bainha de meu “wakisashi”.

Típica “tsuba” das lâminas de Oda. Esta é a das cegonhas e foi obtida por molde de uma excelente réplica japonesa. Existiram também modelos vazados.

 

Típico “habaki” das lâminas mais habituais de Oda: de cobre, liso, sem qualquer desenho.

 

 

 

CARACTERÍSTICAS TÉCNICAS DAS LÂMINAS DE ODA

Forma/”Zukuri”: …………………………………………………………………………“shinoguizukuri” (dois planos)
Curvatura/”Sôri”:……………..“Bizen-Zôri”, ou “Kôchi-Zôri” (acentua-se no 1º terço a partir da base)
Ponta/”Kissaki”:……………………………………………………………………………………..“tchu-kissáki” (média)
Textura da Superfície/”Hadá”:……… “shinoguii” (parte de cima) em “muji” (lisa); “ji” (parte de baixo)
……………………………………………………………com leves sinais de martelo
Dorso/”Munê”:………………………………………………………………………………………………………….“yori” (baixo)
Padrão de Têmpera/ “Hamon”: ……….“gunomê” (olho de peixe; ondas com picos irregulares)
“Espigão”/”Nakagô”…………………forma “futsu” (comum); corte terminal “kenguiô” (em “V” regular); 
……………………………………………………marcas de lima (“yassurimê”) do tipo “sujikai” com os primeiros
……………………………………………………4 ou 5 riscos bem fortes.
Observação: embora o autor nunca tenha visto um tantô de Oda, presume que: 1) sua forma era “hirazukuri”, ou com um só plano; 2) tinha o mesmo “hamon” das outras lâminas e 3)comprimento clássico de 30 cm.

 

A partir de 1984, a fama de Oda já era tanta e suas espadas já estavam tão conhecidas em todas as colônias japonesas das capitais brasileiras que o prazo de entrega era de cerca de 1 (um) ano a partir do pedido. Mas Oda era religioso nesse particular e não raro em 1 ou 2 meses antes desse tempo ela ficava pronta. É também importante mencionar que a partir de 1982 Oda fornecia certificado para cada uma de suas criações, descrevendo as medidas, ângulos, tipo de material e construção, etc. , nos idiomas português e japonês.

Este é considerado o mais novo “kataná” de Oda conhecido. Foi vendido através do catálogo nº 6 da Knife Company, em junho de 2000. Durante 15 anos pertenceu a uma coleção paulistana e agora está no Rio de Janeiro, em mãos de outro sério colecionador. Estava acompanhado de seu certificado original, datado de 21/12/85. Sua lâmina, absolutamente intocada, tem 27 3/8″ (69,5 cm) de comprimento.Sua empunhadura é de “samê” e cordame de seda. No certificado, as áreas em cinza foram aplicadas para preservar a identidade do proprietário original.

 

 

 

 

Principais Furnituras das Espadas Japonesas

“Tsuba” – guarda, inclusive em um tipo de tantô
“Habaki” – “gola” ou “colarinho”; peça aplicada à base da lâmina e que encaixando-se no bocal da bainha permite seu travamento na mesma
“Menuki” – pequenos enfeites artísticos colocados entre o cordame e a pele de arraia (“samê”) da empunhadura. Servem também para dar maior firmeza no empunhar
“Fuchi”– calço metálico em forma de anel no final da empunhadura, próximo da guarda
“Kashira” – pomo metálico no final da empunhadura
“Kozuka” – pequena faca utilitária colocada em compartimento próprio em uma das faces de algumas bainhas
Kogai” – fino estilete sem fio colocado em compartimento próprio em uma das faces de algumas bainhas, usado para coçar a cabeça e/ou limpar as orelhas

 

EXEMPLARES RAROS

Tanto no início quanto no fim de sua carreira de “espadeiro” (como ele mesmo se auto-denominava, inclusive escrevendo esse têrmo em português e japonês em seu cartão de visita), Oda também executou lâminas japonesas muito especiais, algumas delas muito fantasiosas (como uma “espada ninja” e um “wakisashi” todo cravejado de pedras semi-preciosas), o que era produto de seu esforço para atender a clientela e sua bondade em fazer qualquer coisa ao alcance para agradar as pessoas (veja também o artigo “Oda: Uma Descoberta Muito Diferente e Misteriosa…”). Segundo o conhecimento dos principais apreciadores paulistas, este seriam os exemplares mais especiais e/ou curiosos:

  • O primeiro “tantô” que Oda executou, no início da década de 1970, foi presenteado por ele próprio para um amigo, membro destacado da colônia japonesa do bairro paulistano da Liberdade, o qual acabou praticando “hara-kiri” com o exemplar. O próprio Oda relatou pessoalmente a Laerte Ottaiano esse caso (que também teve boa repercussão em jornais paulistas da época) e esta foi a razão ou justificativa pela qual ele nunca mais produziu “tantôs”.

Embora tecnicamente o “tantô” seja definido na terminologia mais pura como uma espada curta, em realidade ele tem na sociedade japonesa uso similar ao de uma faca de combate, podendo ser usado como instrumento de agressão, defesa ou mesmo para a prática do “hara-kiri”.

Fontes fidedignas afirmam que Oda também teria – logo após ter presenteado seu amigo com o primeiro – produzido um segundo “tantô” para um fazendeiro do Interior de São Paulo. Ambos os exemplares são de paradeiros atualmente desconhecidos.

Desejando conhecer um “tantô” comemorativo aos de Oda, vá para a página
http://www.knifeco.ppg.br/tantooda.htm

  • Um “wakisashi” com bainha totalmente revestida de pele de arraia e empunhadura também com “samê” mas sem cordame, ambas com aplicações de pequeninas pedras preciosas coloridas, cada uma encastoada em sua própria base de prata. Foi encomenda de um joalheiro de descendência japonesa, que tinha loja no próprio bairro da Liberdade e que conheci quando fui buscar meu “wakisashi” em finais de 1983. Tive em mãos essa espada quando ainda sem as pequenas jóias aplicadas, mas já em fase final de acabamento. Ainda lembro-me vivamente de quando o joalheiro chegou com um pequeno pacote contendo muitas pedras amarelas, azuis, vermelhas e verdes, todas encastoadas em bases ovais e imaginei quão exótica, chamativa e exclusiva ficaria aquela peça quando pronta, devido ao contraste da cor creme da pele de arraia com o multicolorido das gemas. Na oportunidade, o joalheiro informou-me que aquele “wakisashi” era para ficar exposto na vitrina de sua joalheria. Uns dois anos depois, na tradicional feira de artesanato da Liberdade, encontrei esse joalheiro e ele, muito pesarosamente, me disse que haviam arrombado a vitrina de sua loja numa madrugada de sábado especialmente para roubar a peça e que isso ocorrera cerca de um mês e meio depois de ele recebe-la de Oda. Obviamente, seu paradeiro é atualmente desconhecido;
  • Uma “espada ninja” para Tony Fujihara, com lâmina reta e guarda quadrada, a única do tipo produzida por Oda e conhecida até o momento. Antônio Fujihara era um engenheiro de São Paulo, apreciava muito armas de fogo e lâminas e era extremamente amistoso com outros que tinham as mesmas paixões que ele. Por muitas coisas em comum, nos tornamos amigos até que, muito prematuramente, no início da década de 1990, com apenas 37 anos, Toni faleceu, violentamente atacado por uma súbita doença do coração. Acompanhei de perto todo o “drama” que foi convencer Oda a fazer essa espada reta, mas depois de umas 3 ou 4 visitas, Toni convenceu Oda invocando o argumento máximo para um “espadeiro” japonês: era o pedido de um descendente de samurais, coisa que a familia Fujihara tinha realmente sido no Japão feudal. Fontes fidedignas afirmam que essa espada está atualmente no Canadá, para onde Toni a teria levado, uma vez que lá trabalhou os últimos 18 meses de sua vida;
  • Um “tatchi” para o autor, em 1984, o único conhecido com bainha marrom, metade dela com pele de arraia e cordame também marrom, como na empunhadura. Esse “tatchi” especial de Oda teve seu “design” baseado em um famoso original do século 17 exposto no Museu de Tóquio. Sua lâmina é de 73 cm e a “tsuba” é de latão, especialmente confeccionada, toda com “picotado” nas duas faces. Especialistas e colecionadores de São Paulo calculam que Oda confeccionou, quando muito, 6 ou 7 “tatchis”, segundo o conhecimento deles apenas esse com pele de arraia e cordame em parte da bainha. Após muita insistência, em 1996 foi vendido a um colecionador do Interior de São Paulo, o qual não foi possível localizar;

Esta foto amadora, executada pelo autor em 1986, mostra as 3 (três) espadas Oda que ele então possuia (no mesmo suporte com uma 4ª, japonesa, a 3ª de cima para baixo). A espada de cima é o raro “tatchi”, visto ampliado abaixo.

 

 

 

  • Um “wakisahi” com “tsuba” e outras furnituras de um original japonês antigo, provavelmente do século 18. Esse “wakisashi é o único de Oda a ter uma “kozuka” cuja empunhadura de cobre apresenta aplicação em prata de duas folhas alinhadas e, ao centro, uma flor executada em picotado, bastante similar aos “menukis” do artesão, e claramente executada por ele. Está atualmente com um colecionador de Salvador (BA);

Oda faleceu em 1992, com 80 anos, e até poucas semanas antes de sua morte trabalhava diariamente em suas espadas. Durante alguns meses, seu filho mais velho dedicou-se a terminar as que estavam encomendadas, entretanto não continuou o ofício do pai.

Eu e outros especialistas calculamos que Oda produziu, em seus 24 anos ininterruptos de atividade, cerca de 350 (trezentas e cinquenta) espadas. Levando-se em consideração que a maior parte delas era de uso e foram naturalmente se deteriorando, fica fácil entender porque uma em bom estado é rara e cara. Atualmente, espadas de Oda novas, sem uso, são raríssimas.

N. do A.: Agradecimentos muito especiais aos Srs. Laerte Ottaiano e Aldo Barbieri (por suas preciosas colaborações); à Sra. Elizabete Oda (pela cessão de fotos de seu pai) e a diversos colecionadores (pela cessão de fotos de suas espadas).

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